segunda-feira, 22 de junho de 2009

a energia que vem das frutas

A energia quem vem das frutas
Enquanto a Itália desenvolve painéis solares feitos de cascas de frutas, na África pesquisadores ingleses criam “tijolos” de banana usados como combustível
Junho 01, 2009 11:26 PM
Da Revista Sustenta
Enganam-se quem pensa que a energia derivada das frutas é apenas a calórica. Pesquisadores italianos da Universidade Tor Vergata, em Roma, desenvolveram painéis solares feitos a partir de cascas de fruta, verduras e legumes. Em parceria com o Pólo Solar Orgânico – instituto da iniciativa privada voltado para pesquisa em energias renováveis –, os cientistas descobriram que custa menos produzir células fotovoltaicas a partir de materiais orgânicos do que utilizando o silício, matéria-prima cara por conta do processo de transformação para a indústria, que é responsável por 60% do valor final das placas.No caso das placas feitas a partir de orgânicos, o preço é mínimo, tanto para a produção, quanto da matéria-prima. Hoje, as placas a base de silício custam entre € 6 a € 12 por watt. Com a nova tecnologia, esse preço pode cair para apenas € 2. As próprias máquinas utilizadas na produção dos painéis tradicionais variam de € 15 a € 100 milhões, enquanto os feitos de restos de comida custam apenas um milhão.
Eficiência e combate ao desperdício
Entender a discrepância do custo na produção de painéis solares a partir de materiais orgânicos ou de silício é simples. Mas a eficiência é igual? Os experimentos mostram que a eficiência orgânica é ainda maior. O princípio de funcionamento é o mesmo das células solares comuns, só que as orgânicas têm os semicondutores constituídos por corantes extraídos dos restos vegetais. Os componentes químicos e eletrônicos do painel ficam entre duas placas de eletrodos e são sobrepostos uns aos outros, em camadas de extratos vegetais, reagindo quimicamente e para produzir energia limpa. “As células ativadas pelos corantes absorvem a radiação solar, permitindo o fenômeno da separação das cargas para a produção da energia”, descreve Franco Giannini, diretor do Pólo Solar Orgânico, à BBC Brasil.
e acordo com o professor, as células orgânicas são mais eficientes por serem tridimensionais e, por isso, podem captar a radiação da luz vinda de todas as direções. Além disso, as placas de frutas são muito mais finas e não têm diferença substancial na absorção de energia solar em relação às convencionais. Isso permite que os pigmentos possam ser aplicados em película, vidro ou plástico – podendo ser utilizado em janelas, por exemplo.


Para aqueles que se preocupam não só com iniciativas energéticas limpas, mas com a justiça social envolvida na distribuição de alimentos, é importante lembrar que o processo utiliza apenas sobras orgânicas, evitando, assim, que falte comida para a população. “Usamos aquilo que é jogado fora – as cascas da laranja, por exemplo – e transformamos em matéria básica para a geração de energia elétrica. O Brasil tem uma agricultura forte e pode se interessar por essa tecnologia", afirmou Giannini, que já trabalhou no País.
Alternativa energética para a África
A experiência italiana com os painéis solares alternativos não é a única inovação energética feita a partir de material orgânico. Apesar de ser uma tecnologia bem mais simples que as placas fotovoltaicas, cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, descobriram uma maneira muito simples e eficiente de utilizar restos da produção de banana. Além da possibilidade de fazer vinhos e cerveja, os pesquisadores passaram a utilizar as cascas da fruta pra produzir combustível. Elas são trituradas juntamente com as folhas e caules, que, processados, são transformados em tijolos. Quando queimados, assumem a mesma função de, por exemplo, uma tora de madeira, servindo para cozinhar ou iluminar.O processo é muito simples. As cascas, os caules e as folhas da bananeira, que normalmente seriam descartados – estima-se que para cada tonelada de banana produzida no mundo, 10 toneladas de resíduos sobram –, são processados, prensados (para eliminar os líquidos) e, por último, ficam expostos ao sol por cerca de duas semanas para secar.
Países africanos como a Tanzânia, Burundi e Ruanda, grandes produtores de banana, podem ter sua contribuição para as mudanças climáticas bastante reduzidas, já que mais de 80% de sua produção energética vem da queima de madeira.
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quer pagar quanto

Quer pagar quanto?
Apesar da poluição e da escassez, uma boa notícia: governos começam a remunerar quem preserva a água que bebemos
Maio 27, 2009 12:16 AM
Texto: Bruno Weis Fotos: Zé GabrielDa Revista Sustenta
Rosenilde Diogo Oliveira tem 45 anos e é empregada doméstica. Casada e mãe de cinco filhos, mora no Jardim Ângela, distrito da extrema zona sul de São Paulo. Sua casa fica a menos de 20 minutos de caminhada da represa de Guarapiranga, que abastece 3,4 milhões de pessoas da metrópole. Em setembro de 2008, Rosenilde e mais 200 mil moradores do Jardim Ângela (onde vivem 279.795 pessoas) passaram 72 horas ininterruptas sem abastecimento de água. Para piorar, os dias a seco começaram numa sexta-feira e se estenderam pelo final de semana, quando a maioria das pessoas permanece no bairro. “A coisa ficou feia mesmo no domingo pela manhã, quando até a caixa-d’água esvaziou. Para escovar os dentes, tive que ir até a vizinha com uma jarra. A sorte é que a caixa dela é maior e ainda tinha um restinho”, lembra Rosa, como é conhecida. O silêncio das torneiras e chuveiros deixou as moças que iam à missa sem banho, e pilhas de louça suja se acumularam sobre as pias. E serviu de deixa para os homens. “Meu marido falou: estamos sem água? Então vou tomar umas pingas no bar, banho na represa e dormir”, conta Rose. “Não deixei. Ele ficaria ainda mais sujo com a água da Guarapiranga.” O esgoto gerado pelas casas da região é drenado diretamente para a represa. A estação elevatória que serve para exportar o esgoto para uma estação de tratamento começou a funcionar no começo deste ano, mas a maior parte das casas não está ligada ao sistema.

Moradores do Jardim Ângela driblam a seca buscando água no poço da comunidade

A água voltou a jorrar das torneiras do Jardim Ângela na segunda-feira, mas a ameaça de escassez nas grandes cidades do Brasil e do mundo é um problema que não será solucionado do dia para a noite. O crescimento das grandes cidades, a falta de infra-estrutura em saneamento (na Grande São Paulo, por exemplo, apenas 7 dos 19 milhões de habitantes têm tratamento de esgoto), a poluição de rios e represas e a escassez natural de regiões densamente povoadas fazem da água um recurso cada vez mais precioso para a sustentabilidade do planeta. Em vários países e mesmo no Brasil, felizmente, já há quem pague pela preservação de rios, nascentes e mananciais. É o caso da prefeitura de Extrema, no sul de Minas Gerais. Desde o ano passado, a cidade paga, com recursos do próprio orçamento, 40 proprietários rurais cujas terras abrigam minas e olhos-d’água. Na prática, pequenos produtores de gado de leite estão se transformando em “conservadores de água”. Para isso, se comprometeram com o poder local a cumprir gradualmente uma série de metas, começando pelo cercamento das matas e nascentes, para protegê-las do gado, e pela plantação de mudas de árvores nativas, aumentando a permeabilidade do solo e recuperando a vegetação para ficar em dia com a legislação ambiental. “A segunda etapa do projeto vai incluir a implementação de sistemas alternativos de saneamento básico, como fossas sépticas, e de coleta de lixo”, explica Paulo Henrique Pereira, secretário municipal de Meio Ambiente . “Até agora a prefeitura tem construído as cercas e fornecido as mudas. Os proprietários só têm que abrir a porteira.” O pagamento está previsto em lei municipal aprovada em 2005 e gira em torno de 157 reais por hectares por ano. Elias Alves Cardoso e sua esposa, Maria de Lourdes, vivem em um sítio no qual criam vacas e produzem leite. A terra deles concentra pelo menos dez nascentes. “Quando eu era criança tinha muito mais água, mas com a tirada da mata diminuiu muito”, afirma Elias. “Eu já estava querendo fazer alguma coisa, e achei bom demais ter o apoio da prefeitura.” Cinco mil mudas foram plantadas na propriedade. As ações justificaram um pagamento de 230 reais por mês, o que representa quase 25% de acréscimo na renda do casal.

Vista de Extrema (MG), onde a prefeitura incentiva a conservação das águas
Floresta em pé e dinheiro no bolso
O projeto de Extrema é um bom exemplo no país da aplicação de um mecanismo chamado “valorização dos serviços ambientais”. Serviços ambientais são as funções que a natureza exerce quando está preservada, tal como a regulação do clima e do regime de chuvas, a captura de carbono da atmosfera pelas árvores (reduzindo o efeito estufa) e, claro, a produção de água . A valorização desses serviços é a forma de incentivar as pessoas, empresas, órgãos públicos e mesmo estados a garantir as condições necessárias para que essas funções possam ser exercidas. “Os serviços ambientais nunca fizeram parte do mercado pois sempre foram considerados bens públicos”, diz o economista Marcelo Hercowitz, especializado no tema. “Mas isso tem mudado no mundo todo, inclusive no Brasil.”Sob encomenda do Instituto Socioambiental (ISA), Hercowitz mapeou casos de valorização dos serviços ambientais aqui e no exterior, como a política de preservação de mananciais de Nova York e a da Costa Rica, que criou isenções fiscais e fundos públicos para incentivar a recuperação de suas florestas. No Brasil, o pagamento em dinheiro, como em Extrema, também vem sendo feito pela Fundação O Boticário, que remunera, desde 2006, donos de terras na bacia da Guarapiranga que preservam suas matas. A idéia é garantir a produção e a qualidade da água e o controle da erosão da bacia hidrográfica. Atualmente 11 propriedades, que somam aproximadamente 348 hectares, estão recebendo até 370 reais por hectare por ano.Outras formas em andamento no Brasil são o ICMS Ecológico, criado primeiramente no Paraná em 1991 e hoje aplicado em outros nove estados. Consiste em privilegiar, com uma fração do repasse do ICMS que os estados devolvem aos seus municípios, aquelas cidades que criarem novas áreas protegidas. O Programa Bolsa Floresta, do governo do Amazonas, é outro exemplo. Desde o ano passado, o governo remunera com 50 reais mensais os moradores das reservas extrativistas, parques e florestas estaduais que não expandem suas roças sobre matas primárias, mantêm suas crianças na escola e participam da gestão do território. Até agora, 8,9 mil pessoas vêm sendo beneficiadas.O caso mais bem-sucedido no país tocado pelo governo federal envolve três municípios paraenses no eixo da Transamazônica. Iniciado em 2004, o projeto capacitou tecnicamente e remunerou 315 famílias de pequenos agricultores que deixaram de desmatar, usar o fogo e aplicar agrotóxicos. Ao abandonar essas práticas na lavoura e recuperar a floresta, cada família recebeu 100 reais por mês durante um semestre. “O melhor é que, mesmo após o fim do pagamento, as famílias continuaram implantando as práticas”, diz Marcos Rocha, técnico do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). “Agora estão colhendo e exportando muito cacau orgânico.” Quem vai pagar a conta?

Atualmente o Ministério do Meio Ambiente tenta emplacar a valorização dos serviços ambientais como política pública por meio da aprovação de Projeto de Lei 792, de 2007. O projeto, enviado para a Casa Civil em agosto, prevê como fontes para a remuneração recursos do orçamento da União, parte dos royalties federais pela exploração do petróleo e doações internacionais. Contempla ainda o projeto da Agência Nacional de Águas (ANA) de remunerar quem produz água. Parte dos recursos para a preservação de bacias hidrográficas federais viria da cobrança pelo uso da água, implantada nos rios Paraíba do Sul (RJ/SP), e Piracicaba (MG/SP), e que, em 2009, ocorrerá também no rio São Francisco. No ano passado, os usuários e poluidores daqueles dois rios pagaram 27 milhões ao governo federal. “A valorização dos serviços e a cobrança pelo uso da água são os dois lados de uma mesma moeda”, explica Devanir dos Santos, diretor da ANA. “Se, ao usar a água para gerar riqueza, devemos devolver parte desse lucro para a comunidade, ao preservar uma nascente devemos também ser recompensados por isso.” Para o ecólogo José Galizia Tundisi, da Universidade de São Paulo, a conservação ambiental no Brasil vai prosperar quando virar um negócio rentável. E a valorização dos serviços ambientais seria o primeiro passo. “Precisamos passar de uma economia de consumo para uma economia de conservação”, afirma. “Na França, por exemplo, a Perrier remunera há anos os fazendeiros que fornecem água para a sua produção. Quando o Brasil consolidar esse sistema, vai levar vantagem no cenário internacional.”


Para Marcelo Hercowitz, no entanto, é preciso colocar água fria na fervura. “Além de esses casos serem muito incipientes no Brasil, a valorização de serviços ambientais dificilmente vai poder substituir atividades rentáveis e de grande escala, como a soja na Amazônia ou a especulação imobiliária que gera a expansão urbana”, aponta. “O potencial principal da valorização desses serviços é estimular, a longo prazo, o cumprimento da legislação ambiental e a adoção de práticas de menor impacto ambiental .” Em tempo: de acordo com a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), a falta de água no Jardim Ângela ocorreu durante a manutenção do sistema Guarapiranga, quando uma válvula apresentou problemas de funcionamento.